(Jukov: Este artigo é do meu grande amigo Bruno Carvalho)
O governo de José Sócrates escondeu na gaveta o estudo que indicava que os funcionários públicos recebem salários mais reduzidos que os trabalhadores do privado. Na sua cruzada de lançar trabalhadores contra trabalhadores preferiu ocultar argumentos que não o favoreciam. Mas não se coíbe de bradar que Portugal é o país que tem o maior número de funcionários públicos por habitante. É isso mesmo que refere o estudo não esquecido pelo governo e destacado em capas de jornais. Não é por acaso.
Estamos longe de viver num mundo de coincidências. A discussão, iniciada na semana passada, entre governo e sindicatos, sobre o Sistema de Vínculos, Carreiras e Remunerações não está alheia a isso. Sócrates pretende fragilizar o poder de negociação dos sindicatos e usa a comunicação social como arma de guerra e de mentira. É um combate nada original já visto noutros países, palavras usadas já ouvidas nos lábios de outros governantes.
Mas atenção, não é mentira que o Estado português tenha o maior número de funcionários públicos por habitante. Não, a mentira não está aí. A mentira está na dedução que o governo e a imprensa fazem. Maior número de funcionários públicos é, para eles, sinónimo de um Estado pesado e disfuncional nos tempos que correm. Para quem pretenda executar a receita capitalista de destruir as funções sociais do Estado estas premissas estão correctas.
Infelizmente, para eles, encontraram sempre a oposição do povo português. Por isso, volvidos 32 anos desde 1974, Portugal mantém um dos Estados mais “pesados”, como gostam de dizer, da União Europeia. As 100 mil pessoas que encheram as ruas de Lisboa no dia 12 de Outubro parecem não concordar. Parecem querer ainda mais Estado. Mais Estado para que o ensino seja público, gratuito e de qualidade. Mais Estado para que a saúde seja universalmente acessível. Mais Estado para que a segurança social contribua para a inclusão de todos os cidadãos. Mais Estado para executar as linhas orientadoras da Constituição da República Portuguesa. E sempre mais Estado valorizando o papel dos trabalhadores.
Victor Jara, músico chileno, cantava que “é difícil encontrar claridade na sombra quando o sol que nos ilumina descolora a verdade. É importante que saibamos distinguir entre as mentiras de Sócrates e as verdades do povo. E uma das grandes verdades é que o povo unido jamais poderá ser vencido.
Por isso, no dia 25 de Novembro, todos nós, nos devemos mobilizar contra a destruição e privatização das funções sociais do Estado e pela valorização do papel dos funcionários públicos. Em cada capital de distrito devemos mostrar o nosso repúdio por aqueles que pretendem um Estado que sirva somente os interesses das grandes empresas, o Estado, verdadeiramente pesado, o Estado policial.
Bruno Carvalho