Gravidez & Aborto
Histórias da Santa Madre
A roda ininterrupta
As datas mais consentâneas para referendar a problemática do aborto seriam o 13 e o 28 de Maio. O 13, porque sendo o Dia da Virgem, carrega toda a carga edificante para remissão da mulher portuguesa (atleta de alta competição europeia em abortos clandestinos e maternidades na adolescência); no 28, porque sendo o Dia do Aborto da Democracia, carrega toda a carga vexatória suportada pela mulher portuguesa. São duas efemérides de eleição da Direita Canónica, cuja virilidade preenche os calendários e os anais da História.
Entretanto, que fazer? Não serão as leis nem os sermões que impedirão o trabalhinho de clínica apetrechada ou de vão de escada. As leis apenas impelirão as grávidas para as habilidosas ou darão cobertura sanitária às situações de facto. Em Portugal, tende-se a mascarar o aborto, fingindo-se que se proíbe. Apenas se proíbe, como já referimos, a devida assistência aos ignorantes e aos desamparados. Seria mesmo interessante que certa Imprensa da especialidade averiguasse se figuras que se manifestam contra a legislação despenalizante alguma vez, no seio familiar ou extraconjugal, interromperam voluntariamente a marcha embrionária e fetal. Seria uma investigação paradigmática para ajudar a reabilitar a nossa democracia, minada pelas artes de furtar e do embuste.
Referendar a lei das dez semanas? Que remédio: assim o impuseram. Mas por que não referendar o flagelo da droga, lento e lesto assassino de centenas de milhares de portugueses? Por que não plebiscitar as reformas antecipadas de titulares de cargos públicos e as indemnizações aos gestores de turno? Por que não consultaram o povo sobre a interrupção involuntária do emprego, das maternidades e das urgências hospitalares? Por que não consultaram o povo sobre as privatizações, o preço das habitações ou dos automóveis? Porque não consultaram o povo para o país aderir à NATO e à UE?
O povo só é consultado para que se pronuncie a favor dos seus adversários ou para evitar embaraços ao Bloco Central de Interesses.
Não é por acaso que, no universo partidário, os adversários da despenalização do aborto são, na generalidade, adeptos da penalização das regiões. É o poder discricionário do Estado e de uma casta social sobre os úteros e sobre as terras. Não contente por dominar bancos, hipermercados, fábricas e campos, televisões e fundos europeus, a Direita ainda quer controlar as trompas de falópio.
Uma questão científica se começa, entretanto, a adensar: a pílula abortiva. E depois? Referenda-se a pílula?
Uma recomendação se o Sim contra a despenalização não vencer nesta campanha contra a Idade Média no séc. XXI: enquanto a miraculosa pílula não sofisticar os arsenais da clandestinidade, o remédio será depositar os filhos indesejados ou mongolóides na Roda da Maternidade Ininterrupta, uma Roda pós-moderna, talvez tipo Caixa Multibanco ou máquina de tabaco ou de bebidas e talvez nas imediações da residência de Marcelo Rebelo de Sousa ou do paço do bispo de Vila Real. Acolhendo, com toda a solicitude, os desvalidos (diz-se que mais de vinte, trinta ou quarenta mil por ano em Portugal), a que se juntarão entre 9.000 a 10.000 que, neste momento, são aliviados em Espanha, estes depositários genéticos da Raça albergarão um potencial demográfico capaz de fornecer toda a mão-de-obra à OTA, ao TGV e às guerras que os USA/NATO empreendam pelas terras de Maomé.
Que reforço de militância da Jihad Sexual Portuguesa!
Imaginação ao Poder!
[*] Escritor, jornalista/ www.resistir.info
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